Certa vez, recebi no Plantão polícial, uma senhora, com mais de 80 anos, narrando que ao acordar notou a falta de seu vídeo cassete que estava na sala. Indaguei a ela se havia sinal de arrombamento em alguma porta da casa e ela respondeu: "Não". Ato contínuo perguntei a vítima se tinha vistoriado todas as janelas e constatado algum tipo de dano. Novamente ela disse: "Não".

A própria vítima estava encafifada, pois não conseguia adivinhar por onde o criminoso havia entrado em sua residência. Continuei a conversar com aquela doce senhora, pois queria saber se ela tinha filhos e empregados. A resposta foi essa: “Sou viúva há poucos meses e não tive filhos. Faço todo trabalho de casa sozinha, pois não tenho recursos para contratar uma empregada".

Na semana seguinte, a vítima retorna ao plantão polícial, narrando que desta vez, furtaram seu aparelho de som 3X1. Mais uma vez o criminoso não deixou nenhuma pista ou rastro e o investigador de polícia que me acompanhava no plantão fez o seguinte comentário: "Esse ladrão deve ser dos bons, pois consegue entrar na casa dessa vítima sorrateiramente, sem arrombar porta ou janela. Creio que seja um perito em abrir portas com chave falsa".

Na outra semana, durante a madrugada, resolvi ir à casa da vítima para analisar o local do crime e pude observar que as portas e janelas estavam trancadas. Como a casa ficava na esquina, percorri toda sua extensão a pé fazendo uma análise cirúrgica do local. Repentinamente encontrei o primeiro sinal do criminoso: "Ele deixou marcas de seu pé descalço no muro pintado de branco". Pelo tamanho do pé, conclui que se tratava de um infrator menor de idade. Mas uma pergunta ainda rondava minha mente: "Como esse malandro adentrou a casa da vítima?".

Fiquei satisfeito com os primeiros resultados da investigação e ao entrar na viatura polícial ouviu o barulho de uma janela se abrindo. Saquei minha arma de fogo, corri para os fundos da casa e quando me preparava para pular o muro e prender o criminoso, notei que era a própria vítima que estava abrindo a janela do seu quarto. Olhei para a idosa e perguntei: "Por que a senhora abriu a janela a essa hora da madrugada?". A resposta daquela amável senhora foi esclarecedora: "Este mês, tem feito muito calor. Como meu ventilador está quebrado, abro a janela do quarto quando me sinto sufocada e assim consigo dormir novamente". Expliquei à vítima, que esse descuido, estava auxiliando o autor do crime a entrar facilmente na residência. A vítima entendeu o recado, fechou a janela, mandou consertar seu ventilador e nunca mais foi molestada por intrusos.

Com o racionamento de energia elétrica, os moradores tem optado por não ligarem o ventilador e ar condicionado no período noturno. Com isso é fatal que abram suas janelas para que o ar refresque o ambiente. Ocorre que, muitos marginais, aproveitando esse deslize por parte dos moradores, realizam verdadeiras escaladas, para entrarem nos lares e subtraírem eletrodomésticos, carteiras, jóias etc.

Aconselho que o leitor instale em seu quarto ventilador ou ar condicionado com timer que deve ser acionado momentos antes de dormir para refrescar seu quarto. A partir dai você calcula o tempo que normalmente leva para pegar no sono, regulando o timer para desligar automaticamente o aparelho. Devemos criar o salutar hábito de fechar todas as portas e janelas antes de dormir, pois com isso estará inibindo o furto noturno, muito freqüente em todo Brasil.